26.3.09

Por pelo menos um minuto.

Por que será que eu deveria esperar? Já que é mesmo carnaval e todo mundo já se fantasiou?

O bonde sobe até Santa Teresa e existe placas em seis idiomas dizendo ser proibido tirar fotos e aquele monte de flash e um policial tentando invadir uma casinha da onde sai musica da melhor qualidade e logo ele desiste e a cerveja é dois, ou três por cinco.

Por que eu não largo logo tudo e junto algumas coisas numa mochila de carregar nas costas e divido um apartamento em Perugia com cinco pessoas de nacionalidades diferentes e começo a escrever um livro e pensar menos na morte da bezerra e nas fatalidades que eu antecipo, antecipo e elas nunca vêm porque me acautelo da crise que eu sei que vai me salvar?

Talvez porque eu pense demais e já não consiga conversar sem chegar ao ponto de discutir o cerne do mundo, sendo que no fim eu talvez só queira transar para esquecer suado de tudo que eu penso. Por pelo menos um minuto.

17.3.09

Talvez, ainda...

Eu sento-me aqui, enquanto famílias se desestruturam e fazem as pazes ao bater de portas, aos berros que reverberam no vão oco do prédio velho. Existe um jornal que não leio ainda embalado em um plástico fino azul, um televisor com 120 canais que não ouso ligar, peixes em uma água turva e um gato preguiçoso que não responde aos movimentos das carpas, ao bater de asas dos pombos, um gato que talvez esteja precisando de uma consulta veterinária que esse mês não consigo pagar.

Hoje andei por uma praça. Muitas folhas secas e uma poça que fazia levantar um cheiro dos meus cinco ou seis anos. Sentei-me por ali enquanto pessoas eram demitidas, corriam para entrevistas ou preservavam seus atuais ofícios, atrasadas, engarrafadas em um tráfego lentíssimo e fumacento. Eu queria ter sido patinador do Carrefour quando tinha cinco anos. Médico de bicho, jogador de futebol. Alternativas todas inviabilizadas pelas conversas do meu pai e seu método maluco de dissuasão. Melhor assim, imagino.

Meu telefone tocou e conversei por minutos em um tom de voz claro e forte dizendo coisas que para quem passava na rua deveriam parecer bastante importantes. Mas não eram, não. Apoio as costas no encosto de madeira do banco. Cortam grama e esse é um cheiro dos meus dezesseis anos. Aos meus dezesseis anos eu queria ser escritor e, talvez, ainda...