17.4.07

Cigarra

Intumescia-se de bonitos pensamentos, todos que viriam a sair pela respiração, ao dormir, sem propagar um único som. O sincero desejo de um dia voar, voar até sumir, era um paradoxo entre a aura de aniversariante de festa surpresa que a envolvia.

A vida era mesmo uma chatice, e de perene havia somente a certeza de sua singularidade. Por onde passava apontavam suas asas, que por nunca terem sido abertas, eram apenas um grande par de vontade misteriosa.

Até o dia que a menina mais bonita, cigarra entre as formigas, desapareceu para que pudesse se encontrar. E realmente o fez, ensimesmada como era e, de tanto ficar sozinha, do nada ser tão grande para tudo onde olhava, a menina soltou a primeira palavra.

E o som da cigarra viajou com o vento, ecoado pela coincidência das brisas quentes e frias, pra virar poema e fazer chorar as formigas apaixonadas.

2 comments:

Anonymous said...
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Anonymous said...

Gosto muito dos seus textos. Vc devia escrever ao invés de fazer o que você faz.