19.1.09

Curtam um Caetano

Odeio os nomes Jacu- Pêssego, Anhaia Mello, Radial Leste e outros tantos que sobre a situação do tráfego o rádio insiste em reportar. São nomes pra mim tão burocráticos. Cheiram a diesel, chovem, alagam, são nomes que devem vestir a camisa com 4 botões abertos, usar um escapulário antiqüíssimo perdido em tufos de pêlos grisalhos, fumar charuto, trabalhar em uma rede atacadista rodeado de caixas, caminhões, frente a um computador com a tela negra e letras em verde néon.

Devem dirigir carros dos anos 90, pendurados em multas. Aos finais de semana bebem muita cerveja, compram-nas às caixas, sentam-se à TV por horas abraçados em um balde de tremoço e torcem grosseiramente para um time lutando contra o rebaixamento.
Esses nomes são cobertos de cimento, que esquenta no sol escaldante e assola as borrachas dos pneus. Um cimento que cria aquaplanajem e faz estacionar os motoqueiros temerosos no acostamento. São nomes por onde se passa e não se mora.

E o rádio toca seus “techno beats” meio aos impropérios dos ouvintes. Radial Leste parada, Avenida do Estado intrafegável, e ficam todos apreensivos, e todo mundo esquece do Gil, do Caetano. Vem o helicóptero com as opções de atalhos para fugir do congestionamento. Todos preparam-se para dar a seta, aquela chuva, aquele calor, tanto motoqueiro, um caído. Vai, vai meu filho. Bandeirantes? Não, desce a Vereador e no Cebolinha você tenta pegar a 23. O Eusébio disse que subiu a Brigadeiro em 20 minutos, a Jusséia estacionou em uma padaria do Jardins porque por lá não tem condição. O cara do rádio anuncia o caos como que narrando o páreo final de alguma corrida atravancada de jabutis.

E então uma primeira pessoa acha muito prudente buzinar. Uma outra concorda, ainda mais enfática. E aquela centopéia monstruosa fica balançando seus gomos sem quase sair do lugar. Todos sintonizados no uníssono esganiçar de repórteres estagiários.

Olha...isso tudo para dizer que eu gostei da rádio OI, também da Mitsubish. E descobri as duas em uma mesma avenida que, não me lembro o nome, foi andando, andando, até que eu cheguei em casa sem nenhuma artéria entupida e sem ter visto nenhuma veia de São Paulo explodir, como prenunciava o locutor.

E cabe aí um conselho lógico: Se todo mundo for obedecer o radialista e procurar rotas alternativas ao mesmo tempo, basta ficar na mesma avenida, curtindo um Caetano.

3 comments:

Camilla said...

!!!!!!!!!!!
nostalgia. mas nao so volto depois das 8 da noite. (de algum dia) quando a santo amaro tiver livre.

Anonymous said...

bota o caetano no ipod e vai de bike!

Anonymous said...

Taí, Rádio Oi, a rádio mais shemale de Sampa.
Bela pena, meu caro, parabéns!!!

FOX!!!