O mundo tem coadjuvante e protagonista. O primeiro, em grande maioria, não percebe quando perde todas as chances de ser o segundo. Acontece que existe alguma coisa, uma reação química que faz com que os coadjuvantes, ao verem-se sem senhuma expectativa de de conseguir papel maior, não se joguem pela janela ou larguem-se perenemente aos efeitos degenerativos de uma vida drogada, nômade e internacional.
Quando isso acontece, sem saber exatamente o por quê, eles casam. Eles começam a pensar em fralda, porque a quantidade de pequenos afazeres é inversamente proporcional à investgação das coisas que realmente importam. E se fralda for pouco, se ele trabalhar em uma empresa que vende fraldas e que dá benefícios ao funcionário, ele pega um empréstimo, ele viaja para a Europa com o limite do cartão novo, que vence quinze dias depois do antigo, e se concentra em lembrar e falar da viagem semanalmente para que as brigas com a mulher nos seis próximos meses de aperto não sejam em vão.
Os protagonistas arriscam. Eles fizeram sempre o que gostavam, porque é só assim que se faz algo realmente bem, e passaram anos em uma situação que para os outros era arriscadíssima, porque tudo o que gostamos tem muita pouca chance de ser rentável. Alguns poucos tornaram-se os protagonistas de hoje, referências que mais se aproximam do que é ser feliz, outros muitos são o pior tipo de coadjuvantes.
Um “quase protagonista” assiste a tragetória de antigos colegas agora bem sucedidos, e as comenta em restaurantes como se a amizade em cidades cinzas cosmopolitas fosse algo que resistisse ao tempo. Muitos, também vítimas de outra reação química, tornam-se vorazes leitores de auto-ajuda e usam frases de “quase protagonistas” que eles mesmo salvaram para justificar que sua “quase felicidade” é opcional. E inspirados nelas também sentem-se confiantes ao ligar para os antigos colegas protagonistas, pedir ajuda da maneira mais nebulosa possível e receber, com sorte, um salário que deixará a esperança mais honrosa.
O que tem em comum é o fato de estarem todos letárgicos, presos a uma conformidade absorta raramente interrompida por reflexões. Todas inócuas contra a competição declarada que todos travamos hipócritamente, todos os dias.
Ou eu talvez tenha um dispositivo binário onde as coisas só podem ser uma coisa ou outra e minhas preocupações sejam sintomas de uma crise pela qual as pessoas da minha idade passam quando lêem sobre moleques que hoje são ricos criando coisas e outros que logo serão milionários as vendendo. Eu ainda não escolhi meu lado. Eu não me apaixono por nada.