13.5.09

Coadjuvante e Protagonista

O mundo tem coadjuvante e protagonista. O primeiro, em grande maioria, não percebe quando perde todas as chances de ser o segundo. Acontece que existe alguma coisa, uma reação química que faz com que os coadjuvantes, ao verem-se sem senhuma expectativa de de conseguir papel maior, não se joguem pela janela ou larguem-se perenemente aos efeitos degenerativos de uma vida drogada, nômade e internacional.

Quando isso acontece, sem saber exatamente o por quê, eles casam. Eles começam a pensar em fralda, porque a quantidade de pequenos afazeres é inversamente proporcional à investgação das coisas que realmente importam. E se fralda for pouco, se ele trabalhar em uma empresa que vende fraldas e que dá benefícios ao funcionário, ele pega um empréstimo, ele viaja para a Europa com o limite do cartão novo, que vence quinze dias depois do antigo, e se concentra em lembrar e falar da viagem semanalmente para que as brigas com a mulher nos seis próximos meses de aperto não sejam em vão.

Os protagonistas arriscam. Eles fizeram sempre o que gostavam, porque é só assim que se faz algo realmente bem, e passaram anos em uma situação que para os outros era arriscadíssima, porque tudo o que gostamos tem muita pouca chance de ser rentável. Alguns poucos tornaram-se os protagonistas de hoje, referências que mais se aproximam do que é ser feliz, outros muitos são o pior tipo de coadjuvantes.

Um “quase protagonista” assiste a tragetória de antigos colegas agora bem sucedidos, e as comenta em restaurantes como se a amizade em cidades cinzas cosmopolitas fosse algo que resistisse ao tempo. Muitos, também vítimas de outra reação química, tornam-se vorazes leitores de auto-ajuda e usam frases de “quase protagonistas” que eles mesmo salvaram para justificar que sua “quase felicidade” é opcional. E inspirados nelas também sentem-se confiantes ao ligar para os antigos colegas protagonistas, pedir ajuda da maneira mais nebulosa possível e receber, com sorte, um salário que deixará a esperança mais honrosa.

O que tem em comum é o fato de estarem todos letárgicos, presos a uma conformidade absorta raramente interrompida por reflexões. Todas inócuas contra a competição declarada que todos travamos hipócritamente, todos os dias.

Ou eu talvez tenha um dispositivo binário onde as coisas só podem ser uma coisa ou outra e minhas preocupações sejam sintomas de uma crise pela qual as pessoas da minha idade passam quando lêem sobre moleques que hoje são ricos criando coisas e outros que logo serão milionários as vendendo. Eu ainda não escolhi meu lado. Eu não me apaixono por nada.

3 comments:

Anonymous said...

Ótima análise. Aparenta conhecer bem os dois papéis.
Sabe que não há coadjuvante sem protagonista.
Por mais que goze de prazeres pontuais, quanto pesa ser responsável pela existência de outros?
O papel principal é resultado de muitos fatores, um deles, esforço e às vezes, conseqüência somente.
Ser um protagonista camuflado em coadjuvante seria mais fácil ou seria tão covarde quanto o lobo de Esopo usando a lã de sua presa??

Anonymous said...

Porque, incusive, escolher ser protagonista e depois falhar pesa muito mais.

Isadinha said...

Certamente. Passa a viver a verdade das conseqüências. Mas não enxergo a coragem ainda?? Para mim, tornou-se somente um covarde consciente.