17.11.09

Com duas pontas do dedo eu estico o mundo e o rodopio. Existe sempre por aqui uma saudade instalada das pessoas que passam enquanto as plantas vão crescendo. E eu estou sozinho, acordando e dormindo sob a supervisão das pupilas comprimidas do gato. No mundo, em dois toques para a direita está uma cidadezinha americana que ainda habita meus sonhos. Muito comum acordar com um "rise and shine" reverberando entre as paredes do quarto pequeno. Mas ninguém o disse e também não existem cachorros enormes correndo entre a mobília e pessoas rosadas sorrindo, mexendo em talheres e agindo como se estivessem sendo filmadas.

Não existe a brisa na chegada a praia, nem o cansaço de se ter jogado três partidas seguidas. Não existe medo de avião, nem de prova. Ninguém está doente e eu sinto uma vontade intensa de começar a fazer alguma coisa. Não existem problemas, mas me descubro com potencial para inventá-los. As boas memórias parecem ter sido cristalizadas em um bloco de passado remoto, que eu manipulo sem poder quebrar ou abrir, e esqueço de um cheiro da infância a cada dia que deixo de ligar para a minha avó.

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