23.8.09

Meu Ombro Dói

Minha alma de artista é criança. Ela não pensa em dinheiro. Mora em um planeta de argila que quer mudar. Meu corpo coorporativo lança todo gasto em uma planilha computadorizada de controle e nem suas próprias articulações são muito maleáveis, visto que meu ombro parece não sarar.

Eu estico o braço para o banco de trás tentando alcançar a mochila. Ele dói. Passo a marcha, ele dói. Dói quando eu seguro muito o celular no ouvido e também se cumprimento um cliente mais entusiasmado.

Vou para o médico e saio com uma indicação para dez sessões de fisioterapia. Lá, conheço uma senhora que mora em um asilo e é dona de um peixe que nada de cabeça para baixo devido a uma enfermidade aquática que o rapaz que o vendeu não sabe explicar, o que faz com que a senhora fique muito chateada, falando bem fino e baixinho, porque joga a comida e o peixe só a enxerga muito tempo depois, tendo que caçar os flocos coloridos entre o cascalho do fundo.

Puxo um elástico dez vezes seguidas, por três vezes intervaladas, escutando sobre o peixe morcego que não morre, apesar da má alimentação e exótica postura. Agora a bola, apoio com o braço dolorido em uma bola gigante. O ultra-som agora, agora deita aqui. A dor não passa.

Busco o meu casaco no banheiro. Em pensar que finalmente voltaria a jogar tênis. A moça da academia me liga. Olá, bom dia, eu queria estar marcando, quando você vai estar melhorando? Não sei, o ombro não pára de doer. Em pensar que eu ainda tenho mais nove parcelas do tênis do Rafael Nadal e cinco mais da raquete do Bagdadis.

O cliente me liga. Falta produto. O produto está muito caro e é bom parar por aí e não aumentar esse preço porque senão o consumidor vai se assustar. Você não vai aumentar, não é? Eu tenho que aumentar. Eu tenho que chegar lá e dizer que deu alguma “zica” na Argentina. Vou aumentar e ainda vou ter que vender. Vou dizer que se não for comprar, pode esquecer aquele desconto na nota, aquele aumento no prazo. Tem que comprar.

Dez sessões. Entro no carro, vou buscar a pasta no chão do carro, meu ombro dói. Passo a marcha, meu ombro dói.

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