30.11.05

No Meu Pensamento

Precede meus dias um momento solitário, de olhos abertos, sozinho, acordado, quando todos pensam que estou dormindo. Nesta hora, olho para o feixe de céu entre as construções e vejo algo tirlintar na cadência do piscar das estrelas, e dezenas de rostos me passam pela cabeça, também nesse jogo de luz, lembrando-me das pessoas da minha vida.
As pessoas da minha vida dormem tranquilas, elas tomaram chá no momento delas de preceder os dias. Existe o sonho, entre essa ocasião e o barulho do despertador, mas não os ouso imaginar, mesmo porque saber até disso seria um carma enfadonho, pra não dizer fatídico.
Recolho-me então aos poucos, tento calcular os dias que já não sonho e chego a palpitar que é esse pensamento negativo a razão de estarem quase extintos. Já não me visitam, enquanto durmo, as lembranças da minha infância, o riso da minha avó e o vento que batia na descida da rua inclinada com a bicicleta. E das vezes que acontecem, as raras e singelas vezes, sou expelido como de castigo pro meio da noite, escuuura.
Penso nas pessoas da minha vida como o sonho que já não tenho, e eu de olho fechado as vejo, abrindo sorrisos e expandindo-os, expandindo-os, até lhes fecharem também os olhos. Elas riem e fecham os olhos, tomam chá na noite estrelada no sonho que eu não tenho, no meu pensamento.

1 comment:

Anonymous said...

Cunha, mto bacana seus textos... hoje fiquei aqui lendo vários, fazia tempo que eu não entrava!
Mas esse foi o que eu mais gostei!
Bem reflexivo...
beijos