12.12.05

O menino

O menino subia sempre o telhado da casinha antiga, e entre os frios da parabólica passava religiosos 15 minutos, todos os dias, enfrentando do frio mais agudo ao mais extenuante mormaço.

- Que é que esse menino faz, Maria?

- Tem saudades - respondia a mulher sem se virar do tanque.

- Mas saudade de que jeito, o moleque nem é gente.

- Pois pensa assim você, que é velho xucro. Ele vê novela, normal é que fique desse jeito, amuado. Deixa.

- Novela, novela, ele precisa é de um cacete que faz tempo que eu não dou - isso falou sem a mínima intenção, olhando pro menino até com ternura.

A mãe, se perguntando de onde ela tinha tirado a lógica entre novela e introspecção, tentava remediar: - Ou é menininha, nessa idade essas coisas são confusas.

- Ô Nega, agora eu que tenho que ser poeta, essas coisas são confusas o tempo todo, até de velho. Mas olhe lá, minha flor, se todo mundo for por aí escalando antena pra pensar em amor, haja viuvez nessa terra.

Maria deu um sorriso que foi adocicando até “minha flor”, pra logo depois ser reposto pelo lábio murcho de esculacho que ela fazia.

- Deixa ele lá Jorge, larga a mão de ser turrão. O menino ta quietinho, daqui a pouco desce, você conhece.

O homem foi andando em direção ao telhado, o menino pressentiu a chegada e logo se recompôs do que for que seja que estava fazendo.

Disse paulatinamente: - Oie!

O pai respondeu com um sorriso que seu espírito enferrujado já não sabia dizer o que era. “Esse tico de gente filosofa, zomba de mim, viaja, volta, vira menino de novo...” Chacoalhou de leve a cabeça tentando espantar o pensamento.

- Oi, pode descer, não quero mais essa brincadeira. Se você, deus me livre e guarde, leva choque ou cai, não sobra nada.

- Está certo, papai - por dentro a criança riu e computou a sexta vez que os dois tiveram as mesmíssimas duas linhas de diálogo.

Andou pelo quintal desviando dos morangos, a mãe lhe gritou alguma coisa sobre aonde tinha sujado aquelas meias, que encardiu e não vai sair. O pai veio logo atrás, já retomado o sorriso.

- Esse menino é meio gênio.

- Você já falou, Jorge.

1 comment:

Anonymous said...

tico de gente :) que bonitinho.