Estrela Natalina
Acordou bem mais cedo do que deveria, em uma dessas adaptações de fuso horário. E iria voltar a dormir, caso a vontade de ir ao banheiro não fosse tão urgente. O ranger da porta acordou o cachorro que passou a seguir seus passos vagarosos entre os cômodos do apartamento.
"Quer sair?" Perguntou o dono com suas primeiras palavras do dia, coincidentemente as únicas que o cachorro entendia. Ele andou até onde se guardava a coleira e sentou-se, revezando a atenção entre o dono e a tira de couro pendurada no gancho. Queria dizer que sim.
E foram então, durante a manhãzinha ainda escura, passear. O roteiro foi o mesmo, o itinerário dos xixis e das árvores. Como sempre, as paradas eram freqüentes e exaustivas, mesmo não tendo mais líquido, o cortejo era necessário, o cachorro erguia as patinhas de trás e o dono esperava, por já estar acostumado.
Os sensores de iluminação faziam o passeio dos dois piscar, bem mais amplo e colorido que as árvores de natal que enfeitavam os prédios. As ruas cumpridas e arborizadas formavam um grande pinheiro de luzes seletivas, cadenciadas pelo “clic-clic” das câmeras de segurança. Mas ninguém percebeu, nem o cachorro e o dono, que estavam muito perto, nem qualquer uma das outras pessoas, que preservavam a saúde ao dormir.
Era só uma coisa bonita, entre o claro e o escuro, como tantas outras. O dono outro dia ponderou sobre o verborréico e a introspecção, duas coisas que é, também sem perceber, em tempos diferentes. “Tudo é bagagem, bagagem...”
Das coisas que passam desapercebidas, os sonhos hão de te lembrar. Sonhemos com a estrela natalina.
1 comment:
Hum...
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