Menina Que Bebia
Conhecia uma menina que bebia.
Mal se dava conta, quando alterada, de linearidade de seus dentes, molares e caninos, desperdiçada em todos os sorrisos inadimplentes.
Conhecia uma menina sorridente, que beijava todos os amigos, com preciosos beijos no canto da boca.
Sua conduta simpática e espartana nos impedia de cogitar qualquer outra coisa. A menina, de caipirinha, de chopp dos outros, de marguerita, era tão minha quanto de todos, sorrindo pra uma câmera que nunca estava lá.
Vestia-se de preto, falava de funk a Chico, sem ordem, sem lógica. Assistia cinema mudo, beijava de boca inteira moleques inteligentes e feios, bonitos e burros, tudo junto, suprida da própria certeza.
Sorria cínica, amava torta, a menina que bebia sóbria, quase mais que todos os moleques. Tava na moda deixar o cabelo crescer, manter a barba meticulosamente mal feita e sustentar um ar de sério, mas ela não sabia de moda, ela não sabia de nada (apesar de acreditar que ela já sabia de tudo).
Até que eu, “sortudo”, a beijei. Também de boca cheia, também de mão na cintura e outros pensamentos presos na cabeça, mas convicto de que era uma menina bêbada.
(Thiago Cunha)
3 comments:
Thiago, adorei este teu texto... Joga bem com as palavras.
Muito obrigada pelo teu e-mail, fiquei feliz.
Karina
texto da minha vida.
lendo e relendo o tempo inteiro.
'sorria cínica. amava torta.'
releio esse texto bebada. sóbrea. em noites insones e tediosas. tardes quente. dias frios.
decorando até mesmo a pontuação.
tornou-se meu novo ídolo.
quero um poster seu na minha parede. uma vela pra vc em meu altar. e vc online no meu msn: livia_alli@hotmail.com
mais um hit no seu blog. já pensou em separá-los em blocos? nem todo mundo chega a ter a surpresa. :)
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