22.9.05

Pouco Me Importa

Pouco me importa sua inquietação e fácil fluência dos dedos no teclado. Seu texto e ruim. Talvez você não tenha vivência, use sua pouca idade como desculpa. Quem sabe com um pouco mais de leitura, quantos livros você já leu? Aconselho Hemingway bem traduzido, Clarice e muita poesia, de Pessoa, Vinicius, Cecília Meireles.

Não posso veicular esses textos assim, deliberadamente, entre outros nomes tão importantes. Todos velhinhos, alguns até mortos, suicidas. Deixe ao menos o cabelo crescer, mantenha uma barba descomportada e comece a ser um pouco menos verborréico. O texto melhora quanto menos se fala, escute mais, agregue valor às poucas coisas que você diz.


Garoto, seu estilo inexiste, me desculpe. Nada vai me convencer de que essas orações grosseiramente imputadas sejam charmosas. Você não tem “feeling”, até gramática falta em você, “ascender” com “c” precedido de “s” quer dizer “elevar-se”, pelo amor de deus! Elabore suas ilustrações com mais cuidado, o fato de suas imagens serem iguais a de autores renomados não é coincidência, é plágio. Ainda mais quando na cópia nada e aprimorado, plágio de camelô isso que você faz.

Já falaram da pungente vontade de escrever, já falaram de amor não correspondido, de vontade de morrer, de alma gêmea, de coisas platônicas, de tédio, emoção e pensamento. Já falaram de tudo isso. Não posso te eliciar a coisas inspiradoras, você tem de aprender sozinho. Fique só, ouça música instrumental, aprenda a assistir mais, e perder mais do que ganhar.

Fique sem comer por um tempo, esqueça de seus amigos mais próximos e ande bastante. Você nunca vai fazer nada que preste se não tiver como hábito a caminhada, e se no percurso não atentar a todas as pessoas, as mínimas coisas. Se estiver frio, saia com uma malha fina. Ande sem guarda-chuva se chover, e isso tudo não é apenas pra fazer fita, mas pra provocar um incômodo consciente que aos poucos irrita a cabeça e te faz pensar.

Não sei mais o que te dizer, realmente, me alegra sua tentativa, mas suas súplicas me parecem exaustas, e me cansam um pouco também. Existe uma vertente que tem a criatividade como coisa genética. Se não pela hereditariedade, pode ser o sucesso profissional do seu pai que te atrapalha. Acho que a coisa só sai boa quando é uma das últimas que você acredita fazer bem. Você ainda vai poder ser dono de fábrica, executivo de empresa, de qualquer empresa, realmente não sei. Se quiser mesmo voltar a escrever essas coisas que me manda, espere sua cabeça pedir.

Grato.

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