31.8.05

Boa Balada

Passava por mim a pequena placa magnética empunhada pelo segurança. Apita, era meu molho de chaves, mostro o chaveiro com a bolinha de tênis pendurada e sou cumprimentado com: “Boa balada”. Quase sempre é igual, você sente um cheiro de cigarro com o qual logo se acostuma, só provando mesmo do seu veneno no dia seguinte, quando a calça jeans infestou o quarto, o jogo de cama e o cobertor guardado. As pessoas estão quase sempre felizes, algumas juntam seus créditos para comprarem garrafas inteiras de destilado, outras preferem limitar-se às periódicas idas ao bar, para repor sua latinha vazia de cerveja. Sobre a música, prefiro que seja boa nas primeiras duas horas, para que nas próximas apenas ecoe em meus devaneios embriagados com um sonzinho animado.
É, é preciso estar bêbado. Vodka com coca vem sido a escolha mais eficaz e econômica. Destilados fazem mais do que relaxar a boca e soltar palavras de um raso inconsciente, destilados fazem com que você ria no meio do beijo da desconhecida, simplesmente pelo fato de você nunca saber como aquilo foi acontecer. Te permitem pequenos segundos de completa lucidez, fazendo-te passar por louco porque a conversa logo volta às mais inacreditáveis bobagens, e a menina dá risada, pega a sua mão e a comprime contra a sua cintura. Grava-se então o número na agenda do celular, o nome da garota seguido pelo do estabelecimento.
No outro dia, além das reclamações da sua mãe pelo mal cheiro das roupas e da vontade de beber água, figurará em sua cabeça a imagem daquele sorriso abstrato. Abstrato porque, considerando a bebedeira, a menina já era mais o que você queria que ela fosse do que ela mesma. Às reais qualidades são adicionadas outras, que seja uma vozinha rouca, um mal humor imperceptível, fazendo da reles “Dani Festa do Edu” tema de sonhos acordados e destino de mensagem de celular por uma semana inteira.
Qualquer percalço nessa curta jornada de checar a verdade (sempre existirão, vários) pode pesar mais de um dos lados. A Dani pode se fazer de desinteressada na provável próxima vez que saírem, e isso renderá a insegurança do conquistador e uma mensagem enviada por ele à “Isa Juquey”, que parece estar sempre disponível e simpática.
O contrário também acontece, talvez a Dani tenha um péssimo hábito de dar risada de tudo, o que mudaria toda a história e talvez até seu nome na agenda do celular: “Dani Mala”.
Enfim, o ciclo não é mais duradouro e complexo que isso. As coisas podem funcionar, e calculando as determinações bem “por cima”, a resposta positiva viria de um cruzamento das matrizes: “amigos no orkut (ou falta deles, já que ser blasé virou um cartaz legal)”, “aparência física (ou “fofura”, quando a simpatia se sobrepõe)”, “número de vezes que faz rir”, “número de vezes que diz alguma coisa que o outro não sabia”, “estilo (o que inclui vestimenta, postura, uma certa indiferença, mesmo que proposital)”, “que faculdade faz (análise essa com um fundinho monetário) ”enfim, tudo o que é vital para um relacionamento estável e tranqüilo. Sendo essas informações levantadas por ambas as partes e entre elas houver acordo, aí já é outra novela. O mais provável é que a agenda continue crescendo.

(Thiago Cunha)

1 comment:

Anonymous said...

fala sério, thiago.
tô há horas lendo esse teu blog. telefones pra cá, beijo no escuro pra lá, mini desilusões, paixonites (ou, desculpe, ultra paixões fulminantes) fast food, vodka, referenciaszinhas cultzinhas, tudo muito pop, altamente assimilável, blasé que nao quer mais ser blasé pq agora é moda e aí se afirma mais ainda como blasé por tendência...
mas e aí? e o que interessa?
e as dicas de filme? nada?
vacilo, hein.